sexta-feira, 29 de julho de 2011

Retrato

Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida a minha face?



- Cecília Meireles

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Festa no outro apartamento - Martha Medeiros

Martha Medeiros
Anos atrás a cantora Marina compôs com o irmão dela, o poeta Antônio Cícero, uma música que dizia: "eu espero/acontecimentos/só que quando anoitece/é festa no outro apartamento". Passei minha adolescência inteira com esta sensação: a de que algo muito animado estava acontecendo em algum lugar, porém eu não havia sido convidada.

Até aí, nada de novo. Não há um único ser humano que já não tenha se sentido deslocado e impedido de ser feliz como os outros são - ou aparentam ser. O problema está em como a gente reage a isso. A grande maioria que espera "acontecimentos" fica ligada demais na festa do vizinho, se perguntando: como fazer para ser percebido? A resposta deveria ser: percebendo-se a si mesmo. Mas é o contrário que acontece: a gente passa a se vestir como todo mundo, falar como todo mundo, pensar como todo mundo. Só então consegue passe livre: ok, agora você é um dos nossos, a casa é sua.

As festas em outros apartamentos são fruto da nossa imaginação tão infectada por falsos holofotes, falsos sorrisos e falsas notícias de jornal. As pessoas alardeiam muito suas vitórias, mas falam pouco das suas angústias, revelam pouco suas aflições, não dão bandeira das suas fraquezas, então fica parecendo que todos estão comemorando grandes paixões e fortunas, quando na verdade a festa lá fora não está tão animada assim.

É preciso amadurecer para descobrir que a grama do vizinho não é mais verde coisíssima nenhuma. Estamos todos no mesmo barco, com motivos pra dançar pela sala e também motivos pra se refugiar no escuro, alternadamente. Só que os motivos pra se refugiar no escuro não costumam ser revelados. Pra consumo externo, todos são belos, lúcidos, íntegros, perfeitos. "Nunca conheci quem tivesse levado porrada/todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo". Fernando Pessoa sacando que nada é o que parece ser.

Sua solidão, sua busca por paz interior, seus poucos e leais amigos, seus livros, suas músicas, fantasias, de desilusões e recomeços, tudo isso vale ser incluído na sua biografia, e pode ser mais divertido que uma balada em algum lugar distante. Pegar carona na alegria dos outros é preguiça, e quase sempre é furada. Quer festa? Promova-a dentro do seu apartamento.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

HUMANIZAR E "HUMORIZAR"

Este não é um poema, mas um texto que gosto muito e sempre estou relendo, acho que levanta meu astral.

Nós, seres humanos, somos mesmo criaturas interessantes... Inventamos máquinas para que elas fizessem o trabalho pesado e repetitivo e, assim, poderíamos ficar livres para nos ocupar de coisas mais humanas, como criar, descobrir, nos desenvolver e desfrutar a vida. Curiosamente, em vez de focar no quê nos humaniza, acabamos nos maquinizando...

Em nossa sociedade moderna e altamente tecnológica, nos obrigamos a ter elevado desempenho, ser altamente produtivos, não falhar nunca e não parar jamais. Levamos tudo isso tão a sério que mal deixamos espaço para a espontaneidade e o bom humor em nossas vidas, tornando-as sisudas e dramáticas.

A realidade que criamos nos desumaniza e "desumoriza". A todo instante, estamos dizendo a nós mesmos coisas como "A vida é dura","Preciso ser competitivo","Poucos conseguem chegar lá" ou "É preciso lutar para ser feliz". São pensamentos assim que povoam o inconsciente coletivo, passando de pessoa para pessoa e de geração em geração e se estabelecem como verdades imutáveis. Ah, lembrei de mais um: "É preciso sofrer na Terra para merecer o Paraíso".

Mas será mesmo que é isso que desejamos para nós?

Não!

O que queremos, verdadeiramente, é liberdade, satisfação, criatividade, prosperidade e prazer. Queremos ser felizes, e não só em poucos momentos da vida, mas a vida toda! Só que não acreditamos que isso seja possível...

"Seria bom demais para ser verdade", certo?

O fato é que precisamos aprender a usar o poder do pensamento a nosso favor e sermos capazes de criar a realidade que desejamos. Precisamos nos re-humanizar e re-humorizar, e para isso são necessárias três coisas.

A primeira é tomar consciência de nossas crenças, começando a escutar o que dizemos a nós mesmos. Além das crenças coletivas mais comuns, como as que já citei, (por falar nisso, lembrei de outra:"Pau que nasce torto morre torto"), existem também as pessoais, que surgem da comparação com os modelos de sucesso que a sociedade impõe. Vêm desta comparação auto-sugestões limitantes como"Não tenho tanta competência quanto fulano","Meu carma é ser pobre" ou "Não mereço ser bem-sucedido".

A segunda é começar a substituir crenças negativas por positivas, como"Mereço ser feliz","A sorte está do meu lado","Sempre há uma solução para os problemas" ou"Sou capaz disso". Como já comprovaram a Neurociência e a Programação Neurolingüística, nosso cérebro assimila tudo o que repetimos sistematicamente, seja certo ou errado, positivo ou negativo. Temos de fazer com que as auto-sugestões positivas entrem de uma vez em nossa cabeça, e um bom método para isso é escrevê-las em pedaços de papel e colocá-las em locais que vemos freqüentemente, como a agenda do trabalho, o painel do carro, a tela do computador e até mesmo o espelho do banheiro. Vale também reservar alguns minutos diários para repetir a sugestão que desejamos incorporar até que ela seja definitivamente gravada no cérebro e se torne parte do nosso comportamento.

Ao dizer coisas positivas, criamos um posicionamento e uma conduta positiva ao longo do tempo, e aí entra a terceira coisa: nos tornarmos capazes de interpretar os acontecimentos da vida de modo positivo. Como dizem os físicos quânticos, "Não há uma única realidade, mas sim múltiplas" – tudo depende do ponto de vista de quem a observa... Uma demissão, o fim de um casamento, a falência de uma empresa e até mesmo a morte de alguém pode representar uma tragédia ou uma libertação. Sendo assim, podemos começar a olhar nossas dificuldades, perdas e problemas como eventos que podem nos trazer algo de bom, como uma mudança, a oportunidade de recomeçar ou a chance de tomar um rumo completamente diferente. Quando adotamos pensamentos e condutas positivas, somos capazes de olhar para nossos dramas e, em vez de nos desesperar, questionar: "O que eu tenho a aprender com isso?".
A substituição de crenças negativas por positivas pode mudar nossa realidade e nos humanizar na medida em que saímos das crenças herdadas e comportamentos automáticos do inconsciente coletivo e assumimos plenamente o nosso poder criativo.

E pode também nos "humorizar", pois uma pessoa capaz de criar a realidade que deseja viver tem motivos de sobra para viver bem-humorada!



* Leila Navarro

Fonte:HUMANIZAR E "HUMORIZAR" – Sucesso Profissional - Jornal Carreira e Sucesso
 

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